sexta-feira, junho 30, 2006

#77 *Shhhh

Lost in translation.
Talk please.

#76 *Só um

abraço,
olhar,
beijo.


[Sinto-te]
e tu?

#75 *Mistura de pigmentos

Levanto-me da mesa e olho para trás. Sentada estás e permaneces. As lágrimas salgam-me o rosto, estendo-te uma mão, não aceitas. As paredes reflectem as notas de Liszt, sinto também como na sua época algum Romantismo em tudo isto, coisas da minha imaginação.
Entretanto olho-te, fito-te, amordaço-te com um olhar, como se isso fosse sequer possível.

E o teu olhar nestas palavras, o que fez ele?

Conta-me.

Agora fora daquilo que te transcende vou-te oferecer aquilo que apreendi daquela tarde.
Agora digo-te que me trataste bem, pelo menos como gosto.
Agora digo-te que me senti teu pois continuas a entrar em mim e amarrar-me a isto, que aqui te escrevo.
Agora levo-te as tuas palavras, quando me trataste como se fosse teu. E também sabes que quero ser.
E foi ali, na sala virada a nascente numa tarde de poente fraco que nas entrelinhas me deste um primeiro beijo. Mesmo que não me tenhas dado, eu senti-o.
Esta noite quis outro, e não tenho a certeza que mo tenhas dado.
Mas ali, no dia anterior cada palavra cheirava à tua necessidade de transpiração transcendente. Também eu me senti dentro de ti, ainda sinto, acho.

Tu levantas-te e secas-me as lágrimas com um beijo.

Um beijo, talvez.

terça-feira, junho 27, 2006

#74 *Assim, em abraço.

Foi mesmo diferente. Naquela tarde, vi-te. Estavas assim, sincera. É-me tão estranha a sinceridade, a serenidade. Lido com senilidade usualmente.
Levamo-nos para aquela sala sossegada. Sentamo-nos e eu olho-te inquebrável.
E tão de repente do teu perfil ressaltam lindas pestanas que desenham essas órbitas únicas.
Deixaste-me assim, melhor. Sim, sereno foi como me senti.
E apesar de notícias que me magoaram outras amizades, escutei as tuas palavras deliciosas de sinceridade.
Então os nossos mundos cruzaram-se e falámos o mesmo dialecto. Tu falavas-me de cada vez que os teus olhos bebiam um trago de mim. E vi o toque leve do meu joelho no teu tornar-se quase pecado e senti-me tão de repente abraçado a ti.
Fiquei assim, abraçado. Até mesmo quando a mesa da cozinha nos separava, estávamos assim, abraçados.
Vem-me então à memória a falta de educação com que te recebi, e tu com aqueles lábios magenta leve, empurraste o meu rosto e ficaste temerosa. [Desculpa não fiz por mal, é apenas um hábito de exteriorização de mim].
Também conversámos sobre isso, naquelas curtas duas horas.
Agora estou assim, (não tenho palavra). Porque também tu não te arrependes.
E continuamos assim, de sorrisos verdadeiros no rosto e de vontades nas almas.
Assim, cada vez mais abraçados.

quinta-feira, junho 22, 2006

#73 *Consequência

Penso no Arquitecto Peter Zumthor e na bela metáfora da pedra que entra no lago, o agita e nele se estabelece. Parece que sempre lá esteve mas na realidade o lago nunca mais voltará a ser o mesmo.
Penso também que por muito subtis que possamos ser, os nossos actos possuem em si as suas consequências. Também eles mudam algo, mas ali ficam acomodados nas nossas recordações.
Penso também de como não me arrependo, de nada do que te disse ou que te fiz. Arrependo-me talvez daquilo que não te direi só porque te ouvi calada.
E assim também o teu silêncio tem a sua consequência.
Penso agora no medo que isto me provoca, e a ti, esse medo terá certamente um efeito diferente do meu.
E se olhares para trás neste blogue pensarás que já ofereci muitas palavras a outras pessoas, e sentimentos também. Poderás até não te sentir única. Mas és.
Tudo bem, é uma consequência.
E ser maior por dentro é também uma consequência de viver e de cair.
Eu gosto tanto de viver. E gosto tanto de ti. E como consequência demonstro-te. Tu porém nem me conheces, ainda.

#72 *Sem título [pequeno-almoço]

Permaneceram calados todo o jantar. Depois? Depois deitaram-se. Antes? Antes, ele bebeu um trago de angústia e mordeu um pedaço de dor.
Depois queixas-te que acordas mal disposto…
Abriu a boca, só porque é ele, assim. Dele brotavam os sentimentos e as palavras.
Ela adormeceu e ele calou-se
Quando acordou viu-se completamente rodeado de solidão. Então do seu rosto escorreu uma lágrima forçada, só porque é ele, assim. Assim? Sim, assim como podes ler.
Rolou a cabeça para a sua esquerda e viu um bilhete
Mas se ela não te escreve, porque tens esperança? Era apenas a sua empregada a avisar qualquer coisa.
Agora ele sabia. Ela estava em si, e somente na sua alma.
Ele ligou a música, Franz Schubert foi a sua eleição. Sempre o foi. Há coisas que não mudam Muito.
Espera, já falaste do antes e do depois. E o agora?
Agora acabo de escrever isto e vou tentar não passar o dia à sua procura.

quarta-feira, junho 21, 2006

#71 *artwork001 [ela, ela]

Peguei num magenta.
Fiz um primeiro traço fino
e a seguir outro.
Lábios desenhando um sorriso
rasgado de branco.
Derramei um pouco de óleo de linhaça:
pintei leves e longas ondas terracota.
Agarrei a grafite e esquissei-te:
baixa de grandes gestos.
Desenhei-te numa caixa de ligeiras camadas
que usas para te protegeres.
Não te condeno.
Segura do que queres e do poder
que possuis
liberta da arrogância que outros têm.
Calmamente começas também
a ver-me em cores.
Assim que te libertas da obrigação
faço mais um traço:
o olhar.
Grande,
enorme,
afirmativo,
contemplativo,
ostentador até.
Mas dócil, suave,
teu, único.
Entras mais uma vez em mim
reparo que desta vez pediste licença.
A tua voz de tons roucos
contrasta sensualmente com quem és.
Guardo as tintas,
vamos dormir.

terça-feira, junho 20, 2006

#70 *Lugares

Se quiseres, guarda tudo isto, juntamente com aquilo que aqui não está. Deixa que em ti fique apenas um pouco de mim. Abre um canto, pequeno, como eu. Permite-me olhar-te a alma e sussurrar-lhe o quanto és, em mim, já. E conhece-Me.
Nem tenho assim tanta pressa, por isso escrevo-te às escondidas.
Mas não fujas quando me leres, nem antes de me ler. Ou então não me leias, mas também não vais saber que te escrevi, muito.
Se quiseres responde-me e corresponde-me, em olhares, ou em música. Ouve qualquer coisa junto a mim, e soletra-me cada palavra do que estás a sentir. A letra podes ser tu, porque eu quero!
Senta-te e põe um braço na minha cabeça. Quero sentir como és leve e flutuas no meu ser. E quando uma lágrima cair que seja sentida. E caia na tua saia.
Leva-me lá, porque eu tenho a certeza que nunca fui. Há sítios parecidos, mas nunca iguais.
E aquele, que não conheço é só teu. Eu levo-te ao meu, se quiseres, mas também nunca lá fui.
E peço educadamente para desenharmos a grafite um esboço daqueles lugares num só.
Mais tarde falo-te da cor.

segunda-feira, junho 19, 2006

#69 *Sorrisos

Ando com um sorriso mesmo parvo. É quase tão grande como o teu, mas o teu é maior. Gostava de saber se também anda parvo com o meu.

#68 *Merda

Sim, acho que fiz merda, acho que fiz algo que não devia.
Fui bater à porta e pedir autorização para entrar.
Oh, nem sabia se ela lá estava dentro.
Bater em portas de casas vazias é muito parecido com o silêncio.
Mas o silêncio é mais completo.

domingo, junho 18, 2006

#67 *Escrevo-te

compulsivamente. Até pode ser doentio. Mas tu depois ensinas-me o meio termo.

#66 *Silêncios

Devia deitar fora todos os relógios para não ter de esperar.
Devia escrever-te para te dizer. Devia também esconder-me para parares de entrar.
Mas não quero. Não posso, nem o vou fazer. Sou demasiadamente dependente de tudo isto. Sou dependente do que sinto. Das dores, dos sorrisos, dos abraços, dos sentidos que me fazem ouvir as músicas e ler. Escrever-te, e reler-te. Não quero, não quero que tudo isto desapareça, nem vou permitir. Violenta-me primeiro antes de partires, ensina-me algo antes de dizeres adeus.

Silêncio, Shiu!
Shiu o caraças. Não quero silêncio.
Continua a gritar-me em pequenos gestos, que me queres. Não pares de me dizer coisas do quotidiano porque eu sinto-as. Podes até nem dizer nada, porque também sinto o sabor amargo do silêncio.
Hoje sonhei as metáforas de tudo o que estou a escrever. E a minha boca latejava de tão mal que sabia quando acordei.
O pequeno-almoço não foi, mais uma vez. Lembras-te quando te contei que não gosto de pequenos-almoços?
Vem cá ler-me.

#65 *Saudades

tuas.

#64 *Pormenores

Até quando estás longe me recordo.
Recordo-me de um computador; de dias estragados pelos trabalhos que são demais sempre e nem dão gosto de fazer.
Recordo-me do meu telemóvel tocar e não seres tu. A voz daquele rapaz transmitiu-me uma mensagem tua. Era um convite. Fiquei tão eufórico. Fiquei logo sem problemas e o trabalho acabou.
Entrei no carro ansioso. A chuva batia-me nos vidros e tive imenso medo de ter um acidente. Só porque não te contemplaria naquela tarde, naquela noite, naquela madrugada.
Sem pedir licença entrei pela piscina adentro. E a chuva que picava no corpo debatia-se com o tamanho suor do meu coração.
Chegaste, e nem pediste licença para me sorrires e entrares em mim. Mergulhei e sustive a respiração duas vezes. Quando emergi lá estavas tu, de olhar doente e de sorriso delicioso. Quis mergulhar quantas vezes fosse necessário para deixar de te observar. Mas nem o teu mal-estar te afastou de mim e nem sei como te agradecer tal gesto. Provavelmente são apenas pormenores que só eu vejo e mais ninguém. Mas eu adoro ilusões.
Mais tarde voltei a ver o teu sorriso, mas já não era doente. E a tua silhueta que brilhava ao sol da tarde nebulosa era tão ténue e ligeira como tu. As ondas do teu cabelo não precisavam do vento para se agitarem aos meus olhos. As tuas linhas pequenas desenham alguém único.
Acariciaste-me as costas, sentaste-te a meu lado.
Sem abrir a boca, disse-te que quero ser teu.

sábado, junho 17, 2006

#63 *Momentos sobre o contrário do Vazio

Quando me retribuíste o sorriso que se soltou daquele palco, lembrei-me do pianista que só toca realmente bem Chopin quando está absolutamente apaixonado. E sei que gostas de Chopin, de Bach também e reconheces as suas distâncias.
E quando me empurraste o rosto com os lábios, antes de entrar em palco?... e depois também.
E quando um de nós agarrou a mão do outro, e todos aqueles desconhecidos desapareceram. Que mal que elas se conheciam e mesmo assim ficaram infindavelmente balançando entre os nossos dedos. E quando antes me abraçaste, e depois também...
Hoje acordei, vi o teu sorriso e sorri também. Foi mais um contrário do vazio.
Há momentos que ninguém nos tira.