#77 *Shhhh
Lost in translation.
Talk please.
Já vais atrasado
Levanto-me da mesa e olho para trás. Sentada estás e permaneces. As lágrimas salgam-me o rosto, estendo-te uma mão, não aceitas. As paredes reflectem as notas de Liszt, sinto também como na sua época algum Romantismo em tudo isto, coisas da minha imaginação.
Foi mesmo diferente. Naquela tarde, vi-te. Estavas assim, sincera. É-me tão estranha a sinceridade, a serenidade. Lido com senilidade usualmente.
Penso no Arquitecto Peter Zumthor e na bela metáfora da pedra que entra no lago, o agita e nele se estabelece. Parece que sempre lá esteve mas na realidade o lago nunca mais voltará a ser o mesmo.
Permaneceram calados todo o jantar. Depois? Depois deitaram-se. Antes? Antes, ele bebeu um trago de angústia e mordeu um pedaço de dor.
Peguei num magenta.
Se quiseres, guarda tudo isto, juntamente com aquilo que aqui não está. Deixa que em ti fique apenas um pouco de mim. Abre um canto, pequeno, como eu. Permite-me olhar-te a alma e sussurrar-lhe o quanto és, em mim, já. E conhece-Me.
Ando com um sorriso mesmo parvo. É quase tão grande como o teu, mas o teu é maior. Gostava de saber se também anda parvo com o meu.
Sim, acho que fiz merda, acho que fiz algo que não devia.
Devia deitar fora todos os relógios para não ter de esperar.
Até quando estás longe me recordo.
Quando me retribuíste o sorriso que se soltou daquele palco, lembrei-me do pianista que só toca realmente bem Chopin quando está absolutamente apaixonado. E sei que gostas de Chopin, de Bach também e reconheces as suas distâncias.