Sento-me na aresta da algibeira. Pergunto-me se devo cair, para dentro ou para fora de mim.
Identifico-me com ambos os lados e com a vontade de ir mas sei que não me encontrarei em parte alguma nos tecidos.
E as costuras tentam disfarçar. Sem sangue parece não haver feridas, ou apaga-se a memória da sua origem. Para continuar a cair para fora. Mas desta vez para dentro de mim, mesmo sem poder identificar a pertença de tantos pontos cirúrgicos.
Procuro saber então as origens. Procuro encontrar os beijos perdidos na minha boca gasta pelas palavras que num trago de saliva percorrem agora o meu mundo.
E os beijos, também esses, feridos e suturados procuram sair do bolso num gesto de ilusionismo.
É então uma ilusão a queda, para dentro ou para fora.
E como se também eu pertencesse aos beijos e às palavras deixar-me-ia percorrer o mundo e cair, sempre que fosse preciso, fora, dentro, de mim.