segunda-feira, abril 16, 2007

#87 *janelas

Enquanto nos transportamos de comboio pela cidade que tão bem nos conhece, à nossa volta constroem-se árvores e plantam-se prédios.
Somos urbanos porque já não sabemos ser citadinos e fugimos para o campo à procura do barulho e da poluição num alpendre cheio de azulejos. Procuramos constantemente transformar e destruir.
As catenárias orquestram uma melodia com notas de carris e o ritmo dos plátanos desenha as ruas que não vemos.
Somos assim atentos à cor e à textura dos pavimentos só porque não somos cegos. Esses por sua vez procuram o cheiro dos caminhos e tacteiam as misturas de cidade.
Far-nos-ia crescer um atropelamento das bicicletas inexistentes? Entre um trago de cerveja e um de whisky somos maiores!
Acendemos um charuto à vida mas rapidamente o apagamos porque aqui, aqui é proibido fumar. E se não fosse o conforto da noite e o silêncio do regresso das aves viveríamos obscenidades no comboio, mas alguém pudicamente nos interromperia porque aqui, aqui é proibido foder.
Talvez não valha muito a pena procriar porque a religião morrerá e quando lentamente o nosso consumismo nos tornar mais mortos que urbanos a música cessará e os comboios abandonados serão óperas sem espectadores e a cidade já não serve de cenário.