terça-feira, agosto 17, 2004

#18 *Sacrifícios

Não me recordava até ao dia de ontém de me ter arrependido de muito do que faço.
Decidi sacrificar mais uns dias de férias além Tejo, por um conjunto de pessoas, um projecto, um sonho. Decidi não passar o quadragésimo nono aniversário do meu pai, pela paixão músical. Decidi deixar para trás convívio com amigos, bailaricos, e danças com belas mulheres alentejanas (ou imigrantes) por uma oportunidade. No fim de contas reparo que do grupo, fui o único a fazê-lo.
Um compromete-se a trabalhar, para comprar uma guitarra baixo, verifico que não se preocupou com o trabalho, muito menos com o baixo.
Outros dois, um deles grande amigo, dizem regressar das suas férias com a família, parece que não o cumpriram.
Fico triste. Constatei não só que faltaram a um compromisso, mas que também provavelmente não partilham do mesmo sonho que eu, pois defendo que querer é poder, e aqui, só dependia de nós e talvez, eu, tenha sido o único a não falhar. Faltaram a compromissos, com eles, comigo e com pessoas que nos convidaram a realizar um sonho.
A desilusão apodera-se de mim, pois sinto-me impotente, face a tamanha falta de respeito.
Os ovos já tinhamos, deram-nos a frigideira, não fomos capazes de nos esforçar para ir buscar a margarina para a omelete, passaremos fome, talvez, morte...
Apetece-me desistir desta merda toda, e deculpem-me o palavrão, mas já me correu uma lágrima pela face.
Apetece-me por a mão ao peito e jurar sob julgamento que nunca mais vou dar um pouco que seja da minha liberdade aos outros.
Apetece-me voltar a dormir e viver o sonho sozinho, mas tou com insónias.

segunda-feira, agosto 16, 2004

#17 *Art

sexta-feira, agosto 13, 2004

#16 *Reli…

uma conversa sobre traição. Ela não tinha vida.
e tu também não.

Ela é uma miúda atraída
Tu, não sei.

#15 *Linha

As estrelas caíram, pela noite escura como breu. Encostados ao meu carro, discutíamos a tua depressão. Comentávamos as minhas passadas e com alegria falava-te desta minha fase. A contrariar o calor do verão, a minha fase é fria. Eu sou frio, com as pessoas, com as coisas. Não reconheço valor aos objectos e as pessoas, são poucas que o têm.Consumo, uso, consumo, uso, preservo o que me interessa, descarto as outras. Sou odiável eu sei. Engraçado, compreendes-me, não me censuras, porque estou feliz. Também sabes que já há muito perdi o controle das coisas mas que se foda. Voltamos a ti, mas eu mantive a minha opinião. Ele não presta, bastaram-me uns segundos para perceber como somos capazes de nos enganar. De repente, falamos de amor. Eu defendo a minha opinião. Se existe a linha entre o ódio e o amor, se amamos uma pessoa, podemos odiá-la com a mesma intensidade. E não será o melhor remédio para esquecer-mos alguém? Não. Desprezo. É disso que tenho medo, que também acabe por esquecer algumas pessoas.

sábado, agosto 07, 2004

#14 *Outra Velha

Raramente faço aquela esquina, selecciono os meus percursos.
Aqui, nesta terra além Tejo, lembrei-me da Mafalda. A cantora que refere o medo das pessoas. As pessoas que evitam passar pelos velhos que reflectem a imagem da solidão. Solidão essa que ignoramos e que está presente em gente que supostamente nos deveria ser próxima.
Esta Velha, não estava sentada num banco do jardim, como o da música. Emanava solidão, sentada no banquinho à sua porta naquela esquina. Eu passava: - “Olha que já se fez um homem” – disse num tom calmo e cheio de esperança. Parei, contemplei os seus 82 anos, muito bem conservados. O meu sorriso soube-me a lágrima. Respondi apressado. O medo da solidão tinha-se apoderado de mim. Troquei alguns dedos de conversa porque percebi que me estava a tentar dizer algo. Queria falar-me da solidão. A filha, essa está longe. Vive naquela casa sozinha. A saúde, essa já não ajuda a passear-se pela casa das suas comadres. Contou-me sobre as feridas das pernas. Rapaz da cidade, eu, perguntei-lhe, logo, pelo médico.
De seguida voltámos à sua solidão. Amargamente disse que mesmo nos dias mais quentes não sai de casa. Só o fez, naquela noite, porque sentiu a azáfama da cidade, transpirada por aqueles que nunca souberam viver o campo. É a sua forma de combater a velhice (leia-se solidão). Foi a forma de ter tido alguém com quem falar, na passada, por escassos minutos. Prometi-lhe outra conversa, e vou cumprir.
Um dia eu serei o Velho, sentado em algum lado, suspirando por um “olá, boa noite.”

sexta-feira, agosto 06, 2004

#13 *A Velha

Naquela pacata aldeia visitava a minha 3ª avó. A velhota insiste em chamar-me neto, pelo respeito e carinho que por mim nutre. É mútuo não me preocupa.
A conversa passou pelo mesmo, a saúde que já lhe vai faltando, a juventude que relembra com um brilhozinho nos olhos, as histórias do seu tempo.
A mim, a mim lembra-me de falar das banalidades, falar do dia a dia, coisas sem graça e eis que vem à conversa tudo aquilo que eu não queria, estupidamente, pela minha boca.
A Velha, ela sente-o na minha voz? No meu olhar? “Quere-la?” pergunta com malícia. À primeira não ouvi e voltei a perguntar. Juro que não ouvi, mas entendi a sua malícia e juntei as peças. Quando a Velha repetiu, tremi.
Agora uma lágrima cai-me porque menti.
Sim quero-a, mas não lho direi… é no mínimo patético. Querer alguém há tantos anos, apenas porque tudo nela é irresistível, e até posso não pensar nela todos os dias do tempo que não estamos juntos, o certo é que quando a veja tremo. Fico “parvo”, como costumo dizer, mas não há confusão. Há uma certa depressão. Oh, e ela sorri, ó se sorri e eu não resisto.
Ela tem medo, nega-o mas transpira-o. Medo de deixar a estabilidade, medo de todo o orgulho que se tornava em repulsa. E o medo? Que é mais que a própria repulsa de vermos que algumas coisas não mudam e não podemos fugir delas.
A Velha, essa sabe que tremi, da mesma maneira que a pergunta não foi uma pergunta aplicável a qualquer uma. Ela viu algo em mim. Será que virá amanhã, ela, a sensual, a for visitar? Ironia. Ela é mais uma neta. E daqui a uns escassos dias, já não estará cá e tudo vai ficar por dizer, muito vai ficar pró chorar, e para o ano? Se houver, cíclico permanecerá.