#14 *Outra Velha
Raramente faço aquela esquina, selecciono os meus percursos.
Aqui, nesta terra além Tejo, lembrei-me da Mafalda. A cantora que refere o medo das pessoas. As pessoas que evitam passar pelos velhos que reflectem a imagem da solidão. Solidão essa que ignoramos e que está presente em gente que supostamente nos deveria ser próxima.
Esta Velha, não estava sentada num banco do jardim, como o da música. Emanava solidão, sentada no banquinho à sua porta naquela esquina. Eu passava: - “Olha que já se fez um homem” – disse num tom calmo e cheio de esperança. Parei, contemplei os seus 82 anos, muito bem conservados. O meu sorriso soube-me a lágrima. Respondi apressado. O medo da solidão tinha-se apoderado de mim. Troquei alguns dedos de conversa porque percebi que me estava a tentar dizer algo. Queria falar-me da solidão. A filha, essa está longe. Vive naquela casa sozinha. A saúde, essa já não ajuda a passear-se pela casa das suas comadres. Contou-me sobre as feridas das pernas. Rapaz da cidade, eu, perguntei-lhe, logo, pelo médico.
De seguida voltámos à sua solidão. Amargamente disse que mesmo nos dias mais quentes não sai de casa. Só o fez, naquela noite, porque sentiu a azáfama da cidade, transpirada por aqueles que nunca souberam viver o campo. É a sua forma de combater a velhice (leia-se solidão). Foi a forma de ter tido alguém com quem falar, na passada, por escassos minutos. Prometi-lhe outra conversa, e vou cumprir.
Um dia eu serei o Velho, sentado em algum lado, suspirando por um “olá, boa noite.”
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