sexta-feira, agosto 06, 2004

#13 *A Velha

Naquela pacata aldeia visitava a minha 3ª avó. A velhota insiste em chamar-me neto, pelo respeito e carinho que por mim nutre. É mútuo não me preocupa.
A conversa passou pelo mesmo, a saúde que já lhe vai faltando, a juventude que relembra com um brilhozinho nos olhos, as histórias do seu tempo.
A mim, a mim lembra-me de falar das banalidades, falar do dia a dia, coisas sem graça e eis que vem à conversa tudo aquilo que eu não queria, estupidamente, pela minha boca.
A Velha, ela sente-o na minha voz? No meu olhar? “Quere-la?” pergunta com malícia. À primeira não ouvi e voltei a perguntar. Juro que não ouvi, mas entendi a sua malícia e juntei as peças. Quando a Velha repetiu, tremi.
Agora uma lágrima cai-me porque menti.
Sim quero-a, mas não lho direi… é no mínimo patético. Querer alguém há tantos anos, apenas porque tudo nela é irresistível, e até posso não pensar nela todos os dias do tempo que não estamos juntos, o certo é que quando a veja tremo. Fico “parvo”, como costumo dizer, mas não há confusão. Há uma certa depressão. Oh, e ela sorri, ó se sorri e eu não resisto.
Ela tem medo, nega-o mas transpira-o. Medo de deixar a estabilidade, medo de todo o orgulho que se tornava em repulsa. E o medo? Que é mais que a própria repulsa de vermos que algumas coisas não mudam e não podemos fugir delas.
A Velha, essa sabe que tremi, da mesma maneira que a pergunta não foi uma pergunta aplicável a qualquer uma. Ela viu algo em mim. Será que virá amanhã, ela, a sensual, a for visitar? Ironia. Ela é mais uma neta. E daqui a uns escassos dias, já não estará cá e tudo vai ficar por dizer, muito vai ficar pró chorar, e para o ano? Se houver, cíclico permanecerá.