segunda-feira, fevereiro 25, 2008

#92 *Livro dos Acasos

Estou bêbado
mas não muito
estou triste
mas estou feliz por voltar a estar vivo
estou consciente
mas embriago-me de ti
a cada trago me vicio
em tudo o que perdi.

E agora desisto,
porque a mentira de te amar
leva-me a crer nisto:
a música não para
enquanto houver vida
e alguém acreditar.

Deixo aquelas noites
voltarem aos escritos
do acaso
porque nem mesmo eu
acredito.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

#91 *Após o regresso

Agora que a cerveja e o whisky pouco importam, agora que a morte já não vive contigo, vives a loucura.
E aqui encontras a dor que tanto procuras e adoras.
Sentes-te vivo, real. Sentes-te ligado aquilo que de mais bonito nasceu.
E apesar de os teus olhos apenas serem capazes de gritar desritmadamente contínuas lágrimas, a felicidade deste sentimento cresce em ti desenfriadamente, para te destruir por completo e te atirar mais cedo ou mais tarde para uma dor da monotonia que não amas.
Então percebes que é de facto este sentimento que te faz viver, escreves cartas ao amor, ergues-lhe santuários, porque ele é o único que sabes nunca controlar. No dia em que isso acontecer, as tuas palavras deixam de existir.
Por enquanto deixas o rio continuar a jorrar e voltas ao teu triste e doloroso pequeno almoço onde ela ainda te olha.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

#90 *Regresso a uma morte anunciada

Não tenho sono e há muito tempo que não sei o que é um pequeno almoço.
Por vezes tendo a apreciar o sol de nascente quando vejo a neve das montanhas pelo rectângulo do meu quarto.
Mesmo que conseguisse sair da cama não o faria, pois resiste em mim tudo o que me faz correr.
Corro então de volta para os lençóis e deixo a ressaca dançar mais umas horas abraçada às memórias.
Quando finalmente acordo, volto a correr do medo de me faltar a força, de me sentir, somente mais um.
Corro para o telefone mas a lista está vazia porque apanhei o primeiro avião que pude, sempre que pude.
Se tiver coragem ainda volto a alguns dos lugares de partilha. Normalmente encontro pó, móveis gastos, sinais de que a madeira já não nos permite simplesmente continuar o que começamos, nem mesmo voltar a erguer.
Então questiono-me porque comecei a construir aqueles lugares se de uma forma ou de outra só eu me disponho a regressar, para que esta pequena dor me deixe um sorriso de saudade e uma lágrima de comparação.
Vejo um rosto conhecido que me lança a retórica do meu estado.
Dou uma dentada no tempo e volto ao meu quarto.
Quando deixar de me mentir a uma tão simples questão, talvez volte a descobrir quem fui, e volte simplesmente a ser.