#90 *Regresso a uma morte anunciada
Não tenho sono e há muito tempo que não sei o que é um pequeno almoço.
Por vezes tendo a apreciar o sol de nascente quando vejo a neve das montanhas pelo rectângulo do meu quarto.
Mesmo que conseguisse sair da cama não o faria, pois resiste em mim tudo o que me faz correr.
Corro então de volta para os lençóis e deixo a ressaca dançar mais umas horas abraçada às memórias.
Quando finalmente acordo, volto a correr do medo de me faltar a força, de me sentir, somente mais um.
Corro para o telefone mas a lista está vazia porque apanhei o primeiro avião que pude, sempre que pude.
Se tiver coragem ainda volto a alguns dos lugares de partilha. Normalmente encontro pó, móveis gastos, sinais de que a madeira já não nos permite simplesmente continuar o que começamos, nem mesmo voltar a erguer.
Então questiono-me porque comecei a construir aqueles lugares se de uma forma ou de outra só eu me disponho a regressar, para que esta pequena dor me deixe um sorriso de saudade e uma lágrima de comparação.
Vejo um rosto conhecido que me lança a retórica do meu estado.
Dou uma dentada no tempo e volto ao meu quarto.
Quando deixar de me mentir a uma tão simples questão, talvez volte a descobrir quem fui, e volte simplesmente a ser.
1 Comments:
Lembrei-me que há muito tempo não vinha aqui ler o que vais escrevendo...já tinha saudades!
Um olá e um sorriso:P
Beijinho
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