terça-feira, abril 18, 2006

#59 *Vazio.001

Talvez nem seja eu quem escreve. Este que outrora escreveu amores e desamores.
Talvez seja eu materialista e frio em pedra. Vazio aparente e indesejadamente interior. E se me sento, porque me sento num qualquer muro, contemplo uma paisagem que não me emociona embora emocionasse, antes. Antes disto, da falta de poesia na gota de água que vi correr nas folhas do abacateiro, enquanto apressadas andorinhas se procuravam abrigar no mesmo alpendre que eu.
Está frio em Abril, ou calor, ou nem uma coisa nem outra. Não me emociona também esta amplitude uma vez que também ela reflecte uma indefinição.
Apetecia-me saltar deste muro. Para um local maior, mais amplo. Que estupidez a existência deste muro. Acho que vou saltar, e correr um pouco pelas searas.
Talvez encontre alguém a quem possa contar isto.

3 Comments:

Blogger PreDatado said...

Gostei deste texto.

12:33 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

- Cospe a dúvida com um grito e salta.
Sente o doirado quente das searas debaixo dos teus pés descalços e perde-te sem te quereres encontrar.
Sentes o infinito?
Ele é um eco mudo e disforme, que se perde e perpetua por campos e céus e mares e íris de fogo...
Não o sentes ainda?
Fecha esses olhos onde a vida não arde mais. Deixa-te abraçar pela náusea apertada do escuro... Em teu redor, ondula ao de leve pelo vento a calma das planícies. No silêncio, ouve-se o sorriso do Sol que te queima a face. Abre os olhos e cega-te pela luz. Abre o corpo para o fogo e deixa-te invadir pelo astro. Encontra a eternidade na tua miragem, que agora és Sol, que seca de morte as searas e escalda o tijolo do muro que já ninguém salta.

Tinha encontrado a tua dúvida a olhar de alto a baixo o meu muro. Sorria-me o teu brilho largo, que fervilhava no meu espirito histórias. Tornei-me audácia para te curar e corri ao teu lado, mostrando-te as searas que já conhecia de cor.

8:45 da tarde  
Blogger Janita said...

Como sabes, quando tornamos público algo que antes era só nosso, isso deixa de nos pertencer e fica ao critério da interpretação de quem nos lê.
Este texto sugere-me uma transição da tua vida. Ou talvez o desejo dela.
Já se passou tanto tempo que não sei se saltaste o muro, mas creio que o teu anseio era encontrar não só a amplitude e sim a definição concreta de uma presença a quem pudesses confiar-te.
Aquilo que hoje nos emociona, amanhã pode não nos dizer nada.
Como eu te compreendo!

1:25 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home