#80 *O Tempo e Eles
O tempo.
Ali estava ele sentado, deslumbrado nas suas palavras, que A descreviam.
O tempo que tinha passado.
Ela por sua vez desenhava-o na sua escrita em todos os actos dele e que escreviam nos seus olhos. Por vezes até comentavam de sinceridade em riste. Assim começava a primeira noite.
A brisa do quarto abafado corria-lhes entre as almas, e o tempo, esse foi pequeno demais para tamanha mudança. As mãos desataram em abraços e entre os dedos já transpiravam desejos.
Calaram-se, desceram, romperam os sorrisos, numa noite, a primeira.
O tempo e a praia. Entravam na madrugada conquistando-a. Na areia molhada as estrelas competiam com o seu reflexo no mar e foi então que ele confessou que era um apaixonado, pela praia.
Debateram as divergências e convergiram num abraço, tão dócil.
Quando ao se despedirem sentiram a ternura a desatar o desejo, viram a razão a vencer o beijo.
O tempo, sempre o tempo que ambos tão bem controlavam.
Já sentados à mesa de um restaurante chique num lugar choque tiveram a liberdade de desfrutar da companhia um do outro. Cada palavra, cada gesto alimentava aquele jantar.
E a cada toque voluntariamente involuntário de pernas surgiam novos patamares que os corações escalavam. O tempo, esse passou sem que por eles passasse.
Entre beijos no rosto e ligeiros carinhos de uma pianista ele fugiu e deixou a razão vencer mais uma vez o desejo. Mas a saudade é tramada. E a sedução viciante.
Já no seu quarto sentiram o calor dos lábios que ainda separados gritavam em tons de magenta pela união. O tempo, o tempo mas porquê sempre o tempo? Merda, que controle! O tempo, o sono, a fadiga.
Antes de se ir embora, Ela, soletrou-lhe um beijo.
A sala de cinema pareceu-lhes vazia, pudera, ali não havia tempo apenas duas mãos teimosamente coladas sob um ecrã onde dois mundos dificilmente se cruzam e onde um arquitecto se deixa morrer.
Sedução e e mais sedução, indescritível sedução.
Para onde? interrogava ela enquanto sugeria em eufemismos a casa dele.
Ele cedeu sem o tornar óbvio: sedução.
Sentados no sofá distraídos pela aborrecida televisão deixaram Maria Rita tocar o Segundo.
Ele bebia cada nota para poder viver, e ela bebia musicalmente a sua vida.
Cada palavra: cada puxão no desejo.
E sem mais razão deixaram as palvras da música guiar os corpos. Olhos escarlate, peitos abraçados, beijos e mais beijos.
E o tempo? PAROU!
Que regozijo falar assim do tempo.
Foi então que a razão morreu e ela deixou o medo de lado.
E o tempo voltou, lentamente.
Agora, odeio-te tempo porque não passas.
Agora odeio-te tempo porque passaste.
Agora desejo saber.
Mas não sei.
Apenas quero que o tempo não vença tão bela batalha.
Ele agora quer um beijo.
Ambos desejam algo.
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