#89 *Novidade
É durante todo este tempo em que o relógio está parado que consigo olhar para a minha vida.
E quando observo tudo o que me rodeia em pausa consigo captar a estupidez deste conjunto.
É aqui que tu vais e voltas como as marés e sempre que enches levas um pouco mais desta areia, até que a praia que um dia trouxeste deixe de existir. É neste lugar que habito e que já nada me diz respeito porque a hipocrisia é carnívora e nós somos de carne e osso. E por muito que persista a memória os relógios deixam de bater horas por que já pouco me importa.
Percebo igualmente que apenas me agarro a tudo o que não posso tocar ou sentir a alguns quilómetros de distância e daí provém a necessidade de um retorno. A minha cabeça roda 360 graus na esperança de encontrar as novidades do caminho, mas a estrada está fria e o caminho é longo e lento de percorrer. Não que eu tenha pressa apenas não o sinto porque me consegui fechar o suficiente em mim mesmo, para me afogar em garrafas e papeis queimados.
E quando o tempo volta a rodar, fui atropelado numa passadeira de peões. E toda a segurança que sentia atingiu-me de uma vez só. E como num acidente perdi tanta coisa que não tenho a certeza de querer de volta, essencialmente porque nem sei como as perdi.
Sento-me e tento apenas deixar de pensar e escrever merda, e fico à espera que o meu atropelamento venha nas notícias e que a minha vida seja uma novidade.
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