sexta-feira, setembro 03, 2004

#19 *A Espera

Assim que o relógio transpõe a utilidade, limita-nos o ser o querer, o poder. Os olhos sangrentos de ansiedade, transbordam o tempo que os mantém abertos. Trasportam-se pelos ponteiros da tortura, discretos.
Ruidosamente a insónia aborrece a noite.
Espero-te como ontém, não apareces, mais uma vez, pela manhã.
Aguardo terminar algo. Dou-te o desenho, entristecido por não saber ler o seu significado. A sua textura transmite-me espera.
Estou farto de esperar, estou tão farto de não conseguir dormir, que ao acordar, nada mais há para ruir.
Eu todo sou aquilo que de mim não conheço.
A refeição matinal, sabe-me a monotonia, sabe-me a incerteza, a dúvida. De que sou capaz? De esperar que outra história passe, reflectida no vidro que protege os ponteiros do meu relógio de pulso.
Acordo e não te sinto, adormeço e não te minto, passei o dia a pensar em ti, a esperar por ti e tudo o resto? Tudo o resto pode esperar.
Deito-me e à lágrima, no leito do descanço, mais uma vez.
Amanhã conto-te o meu pequeno almoço, só por cortesia pois tu não vais aparecer.